terça-feira, 14 de abril de 2015

Malu - capítulo 1

  Quero contar uma novidade! A partir de hoje, toda semana colocarei um capítulo novo sobre uma história nova chamada Malu, que a propósito não é o nome da narradora. Malu é uma história que eu sonho que vire uma peça de teatro, mas enquanto isso é impossível, façamos dela um livro. Espero que gostem:

Como todos tem sua história, esta é minha história

                Minha mãe tinha dois namorados. Alexandre Concha era um renomado professor universitário, sempre que ele a via lhe dava presentes caros. O outro era Euclides, um dono de bar que também era grosseiro. Sempre que ele e mamãe saíam ficavam até de madrugada juntos. Às vezes saíam os três juntos, mas nem sempre dava certo, porque um tinha ciúme do outro. Minha mãe não ligava para isso, aliás ela ligava para pouca coisa.
            Dizem que ela não era assim, antes de nos mudarmos para a casa 86 da rua G. de S., antes de morarmos com os Lázaro e com os Rosário, antes do meu pai morrer.
            Não me lembro muito bem do meu pai, apenas do dia que ele morreu. Minhas irmãs se lembravam até dos traços mais discretos do rosto, do tom de voz, e do jeito de sorrir. O que é estranho, porque sou a mais velha.
            Enfim, papai morreu no dia vinte e oito do nono mês do ano em que eu completava sete anos. Estávamos todas em casa, eu, mamãe, Sagrada Pomba e Natureza Alegre, minhas duas irmãs, quando Carlos Meia Noite, um funcionário dos meus pasi entrou correndo:
 – Seu Euzébio Cruz foi atropelado por um caminhão  – ele falou gritando
            Olhamos para ele com cara de espanto, Sagrada Pomba começou a gritar. Natureza Alegre parou de sorrir e minha mãe começou a chorar. Não lembro o que fiz. Sei que minha mãe se virou para ele e disse as seguintes palavras:
 – Carlos (soluço), pegue todas as coisas de valor para você, não quero ver nenhuma delas (soluço). Vamos embora, eu e as meninas (soluço), você fica.
            Ele assentiu sem dizer nada.
            Arrumamos nossas coisas as pressas, deixando para trás apenas meu ursinho. Viajamos de todas as formas possíveis por um tempo que pode ter durado meses, dias ou horas até chegar à rua G. de S. Mamãe disse para nós não ficarmos mal, que tudo mudaria, disse também para rezarmos todos os dias agradecendo por termos uma casa e uma família para nos abrigar.
 – Nala Hope, cuide de todos, será a mais velha aqui. – ela disse em segredo para mim.
            Deste então tudo parece igual. Cuido das crianças da família Junqueira (a minha), Lázaro e Rosário. Assisto as carolas do terço falando da vida alheia e as noites olhando pela janela do sótão, aonde durmo, esperando que um dia as coisas mudassem. Anos se passaram até que um dia um fato inédito aconteceu em nosso bairro.

Quem sou eu

Minha foto
Dragão segundo o horóscopo chinês. Nascida no Rio, mas criada em Petrópolis (ainda bem). Além de querer ser professora, sonha em fazer muitas (MUITAS) coisas. Mas enquanto o dia não tem 72 horas, milita por um mundo melhor, escreve, tenta desenhar e bebe mate. Acredita plenamente no poder transformador do palco, dos animais e da educação.