quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Malu - capítulo 4

Um gato e duas meninas à meia noite

            As horas não passavam. Ia toda hora verificar o relógio da sala e nada.
 – Está com problema? – Luis Marcos falou ajeitando seus óculos – Deeve estar com alguma doença que contraiu de uma bactéria.
 – Estou bem – falei derrotada
            Preparei o jantar para as crianças. Convenci Natureza Alegre que comer era necessário, obriguei Bernardeta a sair da árvore, mandei Sagrada Pomba para o banho e pedi para Maria Isabel para de roubar biscoitos e se arrumar.
 – Quer ajuda? – Joana Pitanga perguntou com uma voz angelical
 – Não precisa – menti
            Não importa quanto trabalho fosse, se não o fizesse minha mãe brigaria comigo e Teresa falaria com suas amigas que minha alma estava condenada e passariam a tarde falando de Deus.
 – Os pássaros falam diferente – Fátima Lourdes gritou para o nada – Pipipipipipi
            E começou a rir. Para todos era um dia normal na casa 86 da rua G. de S., mas para mim não era. Tentava parecer normal e não ficar olhando para o relógio, ou para a casa do lado, e fingindo não ter um gato escondido no quarto.
            Quando finalmente a meia noite chegou, peguei o gatinho e em silêncio fui para o lado de fora. Vi Gustavo José comendo bolo de chocolate, Joana Pitanga passando batom para sair e Carlos Roberto Lázaro beijar seu namorado intensamente. O lado de fora estava frio e Carlota me esperava lá com um caderno na mão e um chapéu na cabeça.
 – Fiquei com medo de se esquecer. – ela falou dura
 – Nunca – respondi tímida
 – Esse é o gato?
 – O próprio
            Ela o analisou rapidamente e abriu o caderno
 – Peguei depoimentos das pessoas da rua sobre a Casa do Lado – ela começou a falar a pontando para o caderno – aparentemente vivem três mulheres lá. Dado coletado por mim, através de observação. O leiteiro disse que vendeu cinco garrafas de leite para elas nessa semana, e que uma moça de cabelo escorrido preto e óculos grandes que pagou. Martina Mara, a solitária, tentou ir falar com elas, mas nada deu certo. Só sabe que apareceu uma cesta com frutas e verduras na sua porta na manhã seguinte. Achou que estavam enfeitiçadas e jogou fora.
 – Mais alguma coisa? – criei expectativa
 – Pretendo usar o gato de isca para descobri-las. Botá-lo de volta no quintal e nos infiltrarmos?
 – Como?
 – Botamos ele naquela baderna que chamam de jardim, observamos a casa e damos um jeito de entrar por um janela enquanto isso.
 – Carlota, isso nunca vai dar certo
 – Imaginei que não iria concordar. – falou desapontada – esperemos então

            E foi o que fizemos.


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Dragão segundo o horóscopo chinês. Nascida no Rio, mas criada em Petrópolis (ainda bem). Além de querer ser professora, sonha em fazer muitas (MUITAS) coisas. Mas enquanto o dia não tem 72 horas, milita por um mundo melhor, escreve, tenta desenhar e bebe mate. Acredita plenamente no poder transformador do palco, dos animais e da educação.