Um
gato e duas meninas à meia noite
As horas não passavam. Ia toda hora
verificar o relógio da sala e nada.
– Está com problema? – Luis Marcos falou
ajeitando seus óculos – Deeve estar com alguma doença que contraiu de uma
bactéria.
– Estou bem – falei derrotada
Preparei o jantar para as crianças.
Convenci Natureza Alegre que comer era necessário, obriguei Bernardeta a sair
da árvore, mandei Sagrada Pomba para o banho e pedi para Maria Isabel para de
roubar biscoitos e se arrumar.
– Quer ajuda? – Joana Pitanga perguntou com
uma voz angelical
– Não precisa – menti
Não importa quanto trabalho fosse, se
não o fizesse minha mãe brigaria comigo e Teresa falaria com suas amigas que
minha alma estava condenada e passariam a tarde falando de Deus.
– Os pássaros falam diferente – Fátima Lourdes
gritou para o nada – Pipipipipipi
E começou a rir. Para todos era um
dia normal na casa 86 da rua G. de S., mas para mim não era. Tentava parecer
normal e não ficar olhando para o relógio, ou para a casa do lado, e fingindo
não ter um gato escondido no quarto.
Quando finalmente a meia noite
chegou, peguei o gatinho e em silêncio fui para o lado de fora. Vi Gustavo José
comendo bolo de chocolate, Joana Pitanga passando batom para sair e Carlos
Roberto Lázaro beijar seu namorado intensamente. O lado de fora estava frio e
Carlota me esperava lá com um caderno na mão e um chapéu na cabeça.
– Fiquei com medo de se esquecer. – ela falou
dura
– Nunca – respondi tímida
– Esse é o gato?
– O próprio
Ela o analisou rapidamente e abriu o
caderno
– Peguei depoimentos das pessoas da rua sobre
a Casa do Lado – ela começou a falar a pontando para o caderno – aparentemente vivem
três mulheres lá. Dado coletado por mim, através de observação. O leiteiro
disse que vendeu cinco garrafas de leite para elas nessa semana, e que uma moça
de cabelo escorrido preto e óculos grandes que pagou. Martina Mara, a
solitária, tentou ir falar com elas, mas nada deu certo. Só sabe que apareceu
uma cesta com frutas e verduras na sua porta na manhã seguinte. Achou que
estavam enfeitiçadas e jogou fora.
– Mais alguma coisa? – criei expectativa
– Pretendo usar o gato de isca para
descobri-las. Botá-lo de volta no quintal e nos infiltrarmos?
– Como?
– Botamos ele naquela baderna que chamam de
jardim, observamos a casa e damos um jeito de entrar por um janela enquanto
isso.
– Carlota, isso nunca vai dar certo
– Imaginei que não iria concordar. – falou desapontada
– esperemos então
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