Orações
da tarde
Deixei o gato no meu quarto e fiz de
tudo para Fátima Lourdes não descobri-lo. Fiquei quieta e fiz o que devia. Na
hora do terço servi o café para Teresa Rosário e suas colegas de terço
– Luciana Clara está vendendo tortas para
conseguir dinheiro, de novo – Marluce, a mais animada, disse se abandando com
um leque – ela sempre é demitida coitada
– Deus não ajuda quem não quer ser ajudado –
Beatriz, a mais nova e religiosa bufou
– Essa vizinhança não tem jeito – Teresa resmungou
– Falando em vizinhança – a fofoqueira Yvone
começou – cês viram que chegou um pessoal novo na casa do lado?
– Eu vi, menina – Lúcia falou entre uma
tossida e outra – era um pessoal do mais esqusisto!
– Nem me fale – Teresa lamentou – não existe
uma pessoa se quer normal por aqui
– Além de nós, claro – Marluce disse rindo
– Mas esse pessoal da casa do lado é terrível
mesmo – Beatriz disse raivosa – ouvi dizer que é uma menina que fugiu da França,
pois engravidou o patrão.
– Meus Deus! – as outras exclamaram em
uníssono
– Ouvi dizer muito pior – Lúcia falou – o Luiz
Fernando, aquele do leite, me falou que ela tem pacto, com aquele lá de baixo.
– Não é possível – Yvone reclamou bebendo um
pouco do café
– Só nos resta mesmo rezar por essas almas
perdidas – Teresa declarou
E rezaram ainda mais. Observei um
pouco e falar com Carlota, a menininha que percorria a vizinhança toda de
bicicleta e com quem mais conversava. Contei que passei a tarde anterior toda espreitando,
contei da conversa das moças do terço e até do gato no meu quarto.
– Nala, não se preocupe – ela falou decidida –
à meia noite desta noite me encontre no quintal da sua casa, não conte para
ninguém, só leve o gato.
Concordei com a cabeça. Apenas.
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