Este texto será uma bagunça (como andam minha mente e minhas coisas nos últimos tempos). Fiz Enem anteontem e acho que dessas semanas para cá vou poder postar com mais continuidade (ou pelo menos esta é a expectativa que ainda temos). É meio difícil não ficar um tanto desequilibrado no terceiro ano do ensino médio, principalmente se você é estudante de um colégio particular que costuma esperar bons resultados (adoro esse sistema que deixamos de ser pessoas e passamos a ser números), como é a escola na qual eu estudo. Parece que sua vida inteira, sua personalidade, seus desejos, medos, aspirações, seu futuro, seu passado, seu presente, tudo que você possa imaginar se resume na sua nota, que se compõe com um número absurdo de questões e uma redação bastante criteriosa.
Precisamos ir bem, para passar para uma boa faculdade, para ser alguém na vida, para conseguirmos um emprego legal, para comprarmos uma casa bonita, para colocarmos nossos filhos em boas escolas, para eles passarem para uma boa faculdade e por aí vai...
Obviamente essa reflexão acima não se acontece na maior parte da população, podemos ter um debate longo sobre como o Enem é uma prova absolutamente injusta e que não diz nada sobre ninguém, sobre pessoas que não tem tanta vontade de fazer faculdade, sobre pessoas que não querem viver nesse esteriótipo de vida perfeita, sobre pessoas que querem passar para onde der, mas até onde podemos considerar esse questionamento real?
Aonde quero chegar? Quero chegar na parte a qual poucos falam sobre o Enem, que a maioria dos candidatos não tem a menor chance. E não tem mesmo. Não por não terem se esforçado ou qualquer explicação hipócrita desse estilo. Nosso mundo é muito desigual e sabe, eu não consigo exatamente ficar feliz por quem sabe passar para algum lugar quando convivo com um rapaz que é da minha idade, mas nem chegou ao ensino médio, trabalha desde cedo e vai fazer supletivo. Para muitos a opção de ignorar é "ok", se eu ficar mal com cada coisa assim, o que vou ganhar? Aonde vou chegar?
Não consigo achar normal se conformar com situações dessa espécie, não consigo entender alguém que apenas olha para ele, em sua situação atual e diz apenas que ele não se esforçou. Há um contexto, bem complexo inclusive, que abrange o genética, classe social, amigos, seu "psicológico", família, ambientes aonde está, pelo que passou.
Ainda sobre essa questão de tentar enxergar um pouco além, eu estava no ônibus e havia uma senhora, provavelmente com quase sessenta anos, e seu filho, obviamente com alguma deficiência mental (não sei se o termo que utilizei foi o mais apropriado). Estávamos todos num engarrafamento e o rapaz, possivelmente por não estar entendendo nada, queria sair do ônibus e continuar o caminho a pé. Por sua vez, a mãe não teve muita paciência e gritava com ele o chamando de "burro". Aí penso eu, será que realmente podemos culpá-la? Eram os dois, obviamente pessoas menos favorecidas economicamente, sem instrução adequada, que, se completaram o ensino médio, foi em instituições precárias, que não recebem auxílio do Estado para poder enfrentar suas vidas, quem dirá o problema de saúde do rapaz, sem falar claro, que não sabemos como se dá a convivência dos dois, e ressaltando que ninguém é 100% paciente 100% do tempo.
Claro que jamais defenderei o jeito que ele foi tratado, o ponto que quero discutir não é a maneira que ele devia ser tratado, e tentar falar sobre como a vida das pessoas é mais complexa do que vemos. Não estamos aqui sozinhos, nossas ações não são inconsequentes, e acho que é extremamente valido tentarmos nos colocar no lugar do outro e pensar, por que ele pode estar nessa situação?